1. O que
é Porfiria Aguda Intermitente ?
A porfiria aguda intermitente é uma das oito doenças do grupo das
porfirias. É causada por uma deficiência em uma enzima chamada
HMB-sintase. Esta enzima é necessária para o nosso organismo formar
um composto chamado Heme. O Heme é o responsável por transportar os
átomos de oxigênio dentro do nosso sangue para todas os nossos
tecidos. A deficiência desta enzima ocorre por uma mutação no gene
que produz a enzima, o que faz com que esta enzima funcione menos do
que o normal. Muitas pessoas passam toda a sua vida sem saber que
tem esta alteração. Os sintomas de Porfiria Intermitente Aguda só
irão surgir em situações específicas, tais como estresse metabólico
do organismo, exposição a algumas medicações, uso de álcool, jejum
prolongado, dieta com poucas calorias, entre outras. Nestes momentos
o organismo exige que a enzima HMB-sintase esteja com sua atividade
total, para a produção de Heme. Os indivíduos com mutação no gene
que codifica a enzima HMB-sintase nunca terão a atividade enzimática
total e por este motivo todo o heme necessário não será formado.
Além disso, a menor atividade da enzima faz acumular no organismo
outras substâncias (neste caso, o porfobilinogênio, o ácido
deltaminolevulínico). Acredita-se que o acúmulo destas substâncias
seja responsável pelos sintomas da Porfiria Aguda Intermitente.
2. Quais
são os sintomas da Porfiria Aguda Intermitente?
Os sintomas podem ser divididos em agudos e complicações crônicas da
PAI. Os sintomas agudos são conhecidos como crises de porfiria. Em
geral a manifestação inicial da crise é dor abdominal mal
localizada, constante, às vezes em cólica. Muitos indivíduos
apresentam alteração do ritmo intestinal que tende a redução deste
ritmo, levando à intestino preso e distensão abdominal. Náuseas,
vômitos, aceleração dos batimentos cardíacos, hipertensão,
diminuição da quantidade de sódio no organismo, insônia, dor nos
membros, falta de força muscular, sudorese, inquietação, dificuldade
para urinar também são sintomas observados na crise de porfiria.
Alguns indivíduos com crises mais graves podem ter paralisia da
musculatura dos membros superiores, inferiores, da deglutição e até
mesmo respiratória.
3. Quanto tempo demora até a crise de porfiria acabar?
O tempo de melhora dos sintomas em uma crise é variável. Em geral,
as crises mais leves vão melhorar mais rápido do que as mais graves
com sintomas de paralisia motora. Depende não só da resposta do
organismo de cada indivíduo, mas também da rapidez para confirmar o
diagnóstico e do início do tratamento. Mesmo que os sintomas da
crise melhorem rapidamente, os pacientes que apresentam paralisia da
musculatura podem experimentar uma recuperação mais lenta dos
movimentos. Este tempo de recuperação pode ser bem demorado,
passando até mesmo de um ano. Também é comum permanecer a sensação
de dormência ou queimação nos membros.
4. Quais são as complicações crônicas da Porfiria Aguda
Intermitente?
Na crise de porfiria aguda intermitente pode ocorrer lesão dos
nervos periféricos que são responsáveis pela contração dos músculos
e pela percepção da sensibilidade. Assim, quando há lesão do nervo
periférico a recuperação desta estrutura pode ser lenta e os
pacientes podem ter sintomas de fraqueza muscular, falta de
sensibilidade, dormência, queimação ou formigamento durante meses e
até mesmo durante anos. A melhora destes sintomas está relacionada à
recuperação das lesões do nervo periférico.
Também são descritas como complicações crônicas de Porfiria Aguda
Intermitente doença renal crônica, hipertensão e muito raramente
doença hepática.
5. Eu
tenho dor abdominal crônica, será que eu tenho Porfiria Aguda
Intermitente?
A Porfiria Aguda Intermitente é uma doença rara. Existem várias
outras causas de dor abdominal crônica que são muito mais comuns e
precisam ser investigadas antes, por isto consulte seu médico.
6. Qual
a idade que se iniciam sintomas? Crianças e adolescentes podem ter
crises?
Em geral, a primeira crise surge em idade de adulto jovem, ou seja,
após 20 anos de idade. Crianças e adolescentes habitualmente não
apresentam sintomas de Porfiria Aguda Intermitente.
7. Como
é feito o diagnóstico?
Exames de laboratório são importantes para o diagnóstico. Existem
vários tipos de exame, cada um tem suas vantagens e suas limitações.
O diagnóstico de Porfiria Aguda Intermitente será feito durante uma
crise, ou seja, o material biológico para o exame deverá ser
coletado no período em que o indivíduo esteja apresentando sintomas
compatíveis com uma crise de porfiria. O momento de coleta do exame
é fundamental para a interpretação do resultado do mesmo!
O exame mais rápido é o teste qualitativo de urina, sendo um deles o
teste de Watson-Schwartz. Este teste consiste reagir uma amostra
fresca de urina com alguns reagentes que modificam a cor da urina
quando o porfobilinogênio está presente. A rapidez é a sua grande
vantagem, este exame pode ser feito em um serviço de emergência, por
exemplo. No entanto, são várias as desvantagens. É muito importante
que o profissional de saúde tenha experiência com o teste, caso
contrário resultados falso-positivos são comuns. Além disso, sua
disponibilidade é limitada, nem todos os laboratórios possuem estes
reagentes. A análise deve ser feita o mais rápido possível, ou seja,
logo após a coleta da urina. Os testes qualitativos de urina avaliam
se o metabólito (porfobilinogênio) está presente ou não, mas não
dosam quanto metabólito existe naquela amostra.
Os testes de urina quantitativos dosam porfobilinogênio e ácido
deltaminolevulínico na urina. É importante dosar ambos os
metabólitos. A amostra de urina deverá ser preservada no abrigo da
luz e muitos laboratórios fornecem frascos específicos para este
exame, com a proteção necessária, o que garante a qualidade e a
confiabilidade do exame. Em paciente com crise de porfiria os
valores de porfobilinogênio encontrados na urina estão 5 a 10 vezes
acima do limite da normalidade. O ácido deltaminolevulínico também
está aumentado pelo menos e vezes o valor normal. Pequenas elevações
de porfobilinogênio e de ácido delataminolevulínico podem ser
encontradas na urina de pacientes que não tem porfiria e por este
motivo é importante que um médico sempre avalie seu exame.
8. É
preciso fazer alguma restrição alimentar?
Não, a alimentação deve ser equilibrada. Dietas rigorosas, com
grande restrição de calorias não são recomendadas pois podem
precipitar uma crise de porfiria aguda.
Acesse também Nutrição e
Porfirias Agudas.
9. E
medicações, devo evitar alguma?
Sim, muitas medicações podem desencadear uma crise de porfiria, por
isto é importante conhecer a lista de medicamentos seguros e não
seguros para porfiria. Acesse
Medicamentos e Porfirias
agudas. Recomenda-se consultar as listas antes de usar qualquer
medicação e conversar com seu médico sobre as restrições.
10. A
medicação que preciso tomar tem classificações diferentes, em uma
lista diz que pode ser usada e em outra que não é segura. O que eu
faço agora?
Converse com seu médico, ele poderá lhe indicar se há algum
substituto para a medicação indicada ou se esta é a única opção e
decidir com você o que fazer neste caso pois, algumas vezes a
medicação pode ser imprescindível para o tratamento de outra doença.
11. Eu
tenho depressão, já me disseram que pacientes com porfiria aguda
intermitente tem este sintoma. Eu posso ter porfiria?
Durante as crises de porfiria aguda, alguns indivíduos apresentam
alterações de humor, podendo ficar deprimidos ou muito agitados e
inquietos. Outros sintomas psiquiátricos também são relatados. Os
sintomas psiquiátricos em geral estão acompanhados de dor abdominal,
falta de força, hipertensão e de todos os outros sintomas observados
na crise de porfiria. Estes sintomas melhoram quando a crise se
resolve e as pessoas retomam seu humor habitual. Na dúvida, converse
com seu médico.
12. Quando eu coloquei minha urina na luz, ela mudou de cor. Porque
isto acontece? Estou tendo uma crise?
Quando expostas à luz ultravioleta, em geral raios UVA, as
porfirinas emitem uma intensa luz vermelho fluorescente, que dá à
urina um aspecto avermelhado ou até mais escuro às vezes. Embora
curioso, este “teste” não é sensível nem específico o suficiente
para o diagnóstico de Porfiria Aguda Intermitente e portanto não
deve ser utilizado para diagnóstico.
13.
Todos os pacientes precisam usar hemina humana?
Não. A hemina humana é utilizada somente nas crises graves de
porfiria aguda. As crises leves podem ser tratadas com glicose
somente. E nos períodos sem sintomas a hemina não precisa ser usada.
14. Além
do tratamento com hematina, que outras medidas são necessárias para
o tratamento da crise?
É importante rever todas as medicações que estão sendo usadas, se
são seguras ou não. Também é importante manter a nutrição e
hidratação adequadas. Além disso, outras medicações para sintomas
como dor, hipertensão, aceleração dos batimentos cardíacos podem ser
necessárias.
15. É verdade que só as mulheres têm crises?
Não. Tanto mulheres quanto homens podem apresentar crises de
porfiria aguda. Porém é mais frequente que crises ocorram em
mulheres do que em homens. Acredita-se que a diferença hormonal
entre mulheres e homens seja responsável por esta observação.
16. Eu
tenho porfiria aguda intermitente. Posso engravidar? Será que vou
ter crise durante a gestação?
Não há como prever quando as crises acontecem. Apesar das alterações
hormonais da gestação serem significativas, a maioria das mulheres
que engravidaram não apresentaram crises durante a gestação.
Converse melhor com seu médico assistente e também com seu
ginecologista/obstetra para mais informações.
É importante lembrar que por se tratar de uma condição hereditária
recomenda-se que o casal passe por sessões de aconselhamento
genético para esclarecer dúvidas sobre a possibilidade da criança
herdar a Porfiria Aguda Intermitente.
17.
Posso usar hemina humana na gestação?
Esta medicação não foi testada em gestantes e por este motivo o
fabricante não tem informações sobre seu uso na gestação. Converse
com seu médico, ele poderá lhe dar mais informações sobre casos
relatados na literatura científica.
18. A síndrome de Guillain-Barré é o mesmo que Porfiria Aguda
Intermitente?
Não. São doenças diferentes que dão sintomas parecidos. A Síndrome
de Guillain-Barré também cursa com paralisia da musculatura e é
considerada no diagnóstico diferencial de porfiria. Os exames para o
diagnóstico da Síndrome de Guillain-Barré e o seu tratamento é
diferente da Porfiria, por este motivo é importante ter certeza
sobre qualquer diagnóstico antes de iniciar um tratamento.
19. Eu
já tenho diagnóstico de Porfiria mas, o médico solicitou outros
exames de laboratório para dosagem das porfirinas, é necessário
mesmo? O tratamento não é igual?
Existem vários tipos de Porfiria, cada uma delas tem aspectos
particulares no que diz respeito a sintomas e também ao tratamento.
Por isto, muitas vezes é necessário complementar a investigação com
dosagem das porfirinas em sangue, urina ou fezes. Somente com esta
dosagem é possível diferenciar entre porfiria aguda intermitente e
porfiria variegata ou coproporfiria hereditária, por exemplo.
20. O que pode desencadear uma crise?
O uso de medicações consideradas não seguras, dieta restrita em
calorias, estresse do metabolismo do organismo (como induzido por
infecções graves ou cirurgias), fumo, exposição a hormônios, jejum.
Estes são alguns dos fatores que mais frequentemente desencadeiam
crises. Porém, em muitos indivíduos o fator desencadeante não é
identificado.
21. Posso fazer anestesia?
Os procedimentos cirúrgicos que usam anestesia local, em geral, são
feitos com lidocaína que é uma medicação considerada segura para uso
em anestesia local. Para grandes cirurgias é importante informar ao
anestesista na consulta pré-cirurgia que você tem porfiria, pois ele
deverá escolher a medicação segura mais adequada para o tipo de
procedimento cirúrgico.
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